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07/10/2021 às 11h05min - Atualizada em 07/10/2021 às 11h05min

Morre a jornalista Fernanda Manécolo, aos 37 anos

Contar as histórias de Araraquara e seus personagens era sua grande paixão

Willian Oliveira
Como é que posso escrever um texto jornalístico falando da morte da Fernanda Manécolo? Não dá. É impossível. Primeiro porque ainda não acredito, depois que não seria justo escrever sem deixá-la corrigir depois. Certamente faria um monte de apontamentos, daria os espaçamentos entre linhas que tanto gostava, encurtaria minhas frases, abriria alguns intertítulos e certamente debocharia da linguagem que sempre uso em meus textos. Nossos debates sobre jornalismo e como se comunicar melhor, acabaram. Por outro lado, seu exemplo, amor e legado, já estão registrados em nossos corações e na história de Araraquara.

Fernanda Bolognese Manécolo Miquilini da Silva tinha 37 anos e nos deixou nesta quinta-feira (07). Quis o destino que em questão de dias seu convívio com a gente nos fosse arrancado. Talvez uma lição do universo mostrando que devemos sempre nos doar ao máximo para quem amamos, porque o dia de amanhã será sempre incerto.

Fernanda passou mal no início da semana, descobriu um problema no coração, fez uma cirurgia e após sucessivas paradas cardíacas foi embora na manhã de hoje, em um hospital da rede São Francisco em Ribeirão Preto.

“Uma das coisas que mais amo na vida é contar histórias. A história de Araraquara é tão especial pra mim, que todos os anos desde 2003 (mais ou menos) eu tento contar de uma forma diferente. Já contei Araraquara no jornal, no rádio, na internet”. Essa foi a última postagem dela no Facebook. Um resumo de quem era e do que mais amava fazer. Fernanda deixa uma filha linda, a Valentina, de apenas 5 anos, seu marido, Fábio, mãe, irmãos e uma legião de amigos e admiradores do seu trabalho.

Fernanda trabalhava como editora do portal A Cidade ON Araraquara, era figurinha frequente na Rádio CBN e na carreira já atuou no antigo jornal Tribuna Impressa, portal Araraquara.com, revista Kappa, portal K3, entre outros veículos.

Por onde passou deixou um legado de lealdade, amor pelo jornalismo, ética e respeito pelo público que a acompanhava.

Eu conheci a Fernanda trombando com ela em algumas reportagens. Nossas impressões, de início, não eram muito boas. Ela dizia que não ia muito com minha cara e eu, confesso que tive a mesma sensação.

O destino nos uniu na redação do portal A Cidade ON Araraquara. Nunca tivemos diferenças, eram apenas impressões, que poucos dias de convívio se mostraram completamente equivocadas. 

Fernanda foi uma das pessoas mais leais que o jornalismo me apresentou. Conselheira, amiga, pau pra toda obra. Gente da melhor qualidade, do tipo que Deus parece estar realmente resgatando mais cedo para seu entorno.
 
Fernanda era dona de um texto rico em detalhes e perfeito na escrita. Nunca se furtou em ajudar. Como venho de uma escola de rádio e tv, aprendi demais com ela a adaptar minha linguagem ao impresso e, posteriormente ao digital. Tantos outros também aprenderam com Fernanda e que pena, que ninguém mais terá essa oportunidade. Me sinto grato e orgulhoso de ter tido essa chance. É o que me consola diante de tanta dor.

Tantas e tantas vezes inventamos necessidade de 2 repórteres só pra poder sair e fazer pauta juntos. Eu era o motorista da madame, claro. Depois virava fotógrafo, mas não da pauta, essa ela mesma fazia. Virava fotógrafo dela porque cada novo cenário era um flash. Que bom que gostava, assim temos dezenas delas para olhar e lembrar do sorriso, da alegria e principalmente da vontade de viver. A Fernanda sem dúvidas é uma das responsáveis por eu ter chegado 180 quilos antes da bariátrica. Aquilo comia pra alimentar 5 lombrigas e sempre nos levava com ela ou nos envolvia nas vaquinhas para comprar algo gorduroso para degustar na redação.

Fernanda era mulher de gênio forte, convicta de suas opiniões, dona de um coração generoso, não tinha como não gostar. Não tinha como não discutir com ela também. Os perrengues eram diários, as tretas constantes, mas era parceira de verdade. Nossos debates sobre todos os temas possíveis e imagináveis nem sempre terminavam em consenso, aliás, acho que quase nunca, mas tínhamos convicção que, para produzir uma boa reportagem, não importava a minha ou a opinião dela e sim, a informação e a melhor forma de passar isso ao nosso leitor ou ouvinte.

Fernanda vivia para o jornalismo e sua família. A Valentina, era a maior motivação. Seu carro parecia um playground, sempre cheio de brinquedos para todo lado. Entrar nele para ir almoçar com ela demorava alguns minutos. Era preciso jogar tudo que tinha no banco da frente para trás, de qualquer jeito mesmo, só pra abrir espaço.

Nos almoços ao longo de 3 anos fizemos muitos planos juntos. Queríamos escrever um livro com os personagens de Araraquara que ela já havia retratado em reportagens ao longo de sua carreira. Pensamos em alguns documentários. Seu sonho era manter viva a história de Araraquara, não só a dos livros, mas principalmente a das pessoas.

Fernanda adorava ouvir os anônimos da cidade, as pessoas simples que fazem coisas incríveis longe dos olhares de todos. Manécolo fez isso com primazia. Deu voz a tantos personagens, e deu vida a tantas histórias.


Se o amor emana do coração, talvez seja por isso que o dela não suportou. Fernanda amou demais. Seu trabalho, a filha, o marido, a família, amava contar histórias, amava as pessoas. Viveu intensamente tudo que amou. Isso não quer dizer que amar demais seja errado, pelo contrário, quando enchemos nosso peito de alegria, amor e bons sentimentos, não importa o momento da partida, seja após várias e várias décadas de vida ou em apenas 37 anos, o que plantamos nesse mundo, sempre dará ótimos frutos.

Fernanda semeou tanta coisa boa por onde passou que, embora tristes com sua partida, devemos nos sentir também privilegiados pela oportunidade de conviver com alguém assim.

Com Fernanda vai embora um pouco da nossa alegria, mas fica também um monte de lições. Seus textos ecoam na eternidade, os personagens que tão bem retratou jamais serão esquecidos e ela também não. A morte é isso, um amontoado de coisas que ela deixou de fazer e de que nós deixamos de fazer com ela.
Que possamos aprender a amar mais, nos aproximar mais e deixar de adiar aqueles almoços com quem amamos. Há um ano estávamos tentando voltar a almoçar juntos para colocar o papo em dia. A pandemia atrapalhou, claro, mas como deixamos um ano se passar? Porque não adiamos compromissos? Porque não nos esforçamos mais? Passou! Um ano. Muitos e muitos anos vão se passar agora por causa disso. Não espere você também!!!

Vá em paz, Fernanda. Cuida da gente aí!!!

Do eterno amigo, Willian Oliveira.

O velório vai ocorrer nesta sexta-feira (08), das 8h às 11h, na Igreja Presbiteriana Filadélfia. Endereço: Avenida Dr. Leite de Moraes, 521 – Vila Xavier 
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