Desde o início da pandemia, a comunidade científica tem trabalhado em pesquisas que forneçam soluções aos diversos problemas causados por uma infecção pela covid-19. Um desses trabalhos é o estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que investiga como a doença pode provocar lesões nos rins. O documento também alerta para o fato de que 20 a 40% dos pacientes com coronavírus sofrem algum tipo de lesão renal que compromete as funções do órgão.
Os pesquisadores responsáveis pela elaboração do texto acreditam que o vírus possa ter ligação com uma importante enzima presente no organismo humano, chamada “conversora de angiotensina 2”, que permite que o SarS-CoV entre nas células humanas e dê início ao processo de replicação, fundamental para o processo de infecção. Dessa forma, o comprometimento das funções da enzima reduz o fluxo sanguíneo e a capacidade de filtração dos rins, dificultando a eliminação de substâncias que, em excesso, se tornam tóxicas para o organismo.
Segundo o nefrologista Henrique Carrascossi, entre as hipóteses levantadas pelo estudo, está a teoria de que a Covid-19 tenha a capacidade de afetar os rins de forma direta, pela própria infecção viral nas células renais, nos glomérulos ou até nos próprios túbulos renais; e de forma indireta, quando ocorre um processo inflamatório que interfere no bom funcionamento dos rins.
Diante desse cenário, observa-se que uma grande parte dos pacientes que tiveram Covid-19 ainda enfrenta as consequências de uma doença renal, que pode se apresentar nos mais variados graus.
“Embora não haja informações à longo prazo, podemos afirmar que a curto prazo esses pacientes mantém a função renal alterada mesmo quando terminado o período de infecção.”
“Essa condição ainda pode refletir ao longo dos anos em indivíduos que já sofrem com determinadas patologias que provoquem lesões renais ou predisposição a lesão renal, com a covid acelerando o processo de danos dos rins e de diminuição da função dos órgãos, como no caso dos diabéticos, por exemplo”, alerta Carrascossi.
Quadros de lesões renais consequentes de uma infecção pelo coronavírus também podem ser associados a chamada “Covid Longa”, quando há uma demora na recuperação dos sintomas do paciente. “Até o momento, existem relatos de algumas pessoas que passaram 12 meses em tratamento contínuo para melhora da doença, e no caso da lesão renal, ainda é possível que não se recupere totalmente a função dos órgãos.”
Em observação aos pontos ressaltados, Carrascossi comenta que, embora ainda não existam medicamentos específicos para o tratamento direto dos rins nos quadros de coronavírus, o suporte indicado para a covid em geral é o método adotado para lidar com esses casos e auxiliar no processo renal.
“Dessa forma, são utilizados, principalmente, o oxigênio suplementar, as medicações que contenham o processo inflamatório e uma hidratação e alimentação adequadas.”