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05/06/2020 às 12h03min - Atualizada em 05/06/2020 às 10h35min

O ensino das crianças e a rotina dos pais com os estudos em casa

Por Rian Fernandes

Com o início de medidas sanitárias, como o isolamento social, para combater a propagação do coronavírus, a rotina mudou completamente e afetou, além dos setores de saúde e econômico, a área educacional. No entanto, não somente estudantes próximos de vestibulares foram atingidos pelos impactos da pandemia, mas também crianças que também tiveram que se adotar ao sistema de ensino a distância, uma situação mais complicada para quem ainda é dependente de responsáveis. 

Desta maneira, na maioria das vezes, os conteúdos de ensino são enviados por meios tecnológicos para que os pais ensinem as crianças, porém a dificuldade é maior do que a rotina de antes nas escolas. "Existem mães que não sabem ler, aí elas têm uma dificuldade maior", comenta Maria Eduarda Oliveira Santos, que tem uma filha de três anos. 

No caso dela, o problema não está sendo a explicação, visto que os conteúdos enviados são simples por conta da idade de sua filha, no entanto, a criança não sente obrigação de fazer, em casa, as atividades. "Ela [a filha] entender, mas ela não gosta", ressaltou a mãe Maria Eduarda sobre a dificuldade da filha com os estudos.  

Algumas das adversidades enfrentadas por Maria Eduarda é a realidade de muitas mães por todo o país, porém, obviamente existem outros problemas existem para complicar ainda mais a situação. Entre eles estão a falta de tempo dos responsáveis para ensinar as crianças, por conta da rotina com trabalho e outras atividades do dia a dia, a complexidade em explicar os conteúdos, pela defasagem escolar e falta de metodologia, e até mesmo a falta de paciência com os filhos. 

Para Camila Fedatto, psicóloga formada pela PUC Campinas com especialização em Teorias e Técnicas Psicanalíticas pelo IEP Ribeirão Preto, o atual momento é um desafio angustiante para todos, crianças e adultos, que não podem temer a busca por ajuda. "Os pais vivem uma aglutinação de papéis e tarefas, além de toda a sobrecarga emocional. Conscientizar-se disso é o primeiro passo para desenvolver a compreensão, a tolerância e a paciência consigo mesmo e com os filhos. Precisamos colocar a compreensão antes da exigência. A criança é muito ligada ao emocional dos pais. Pais muito exigentes estarão mais frustrados e intolerantes nesse momento e isso certamente refletirá no desenvolvimento dos filhos" explica. 

Segundo ela, existe um grande sofrimento psíquico causado pela pandemia, que atinge a todos, porém, não igualmente. Com isso, a tarefa de ajudar as crianças com o ensino devem ser compartilhadas e não deixar apenas na responsabilidade das mães. "Generosidade, paciência e perseverança, além de uma certa persistência. Cuidado com esquematismos e muita rigidez. As tarefas diárias podem e devem ser divididas por todos da família, pais e filhos, de acordo com a idade e capacidade", orienta. 

Os desafios do ensino a distância

De acordo com a pedagoga e especialista em educação escolar com mestrado e doutorado pela Unesp de Araraquara, Ana Paula Poli, o contato dos educadores com as crianças, neste momento, é essencial, mesmo por meios online, desde que o ensino não seja totalmente conteudista para dar conta do ano letivo, já que assim, o aprendizado pode ser violento com as crianças. "O processo de aprendizagem envolve outras coisas, que vão além de postar uma atividade, a criança ir lá e fazer. A convivência social que a escola proporciona não dá para ser suprida. (...) Acho importante não perder esse vínculo", ressalta.

Ainda conforme destacou Ana Paula, o ensino com muitos exercícios é problemático por conta da acessibilidade, visto que nem todos possuem recursos para isso e, em algumas ocasiões que o equipamento existe, são poucos aparelhos tecnológicos para vários membros da família. Já em outros casos, a disponibilidade de internet não existe. Além disso, ao longo da rotina, muitos pais estão tendo que sair para trabalhar, mesmo com a atual pandemia. "Isso [o ensino virtual] gera inúmeras formas de exclusão. (...) Colocar uma única forma que se dê apenas através de um site é totalmente excludente, porque não vai chegar até as crianças”, esclarece a professora. 

Volta às aulas

Para a pedagoga, o retorno das aulas no momento atual seria inviável. “No momento atual é impossível ter um contato presencial, principalmente com os menores, porque você não consegue sobre a questão de distanciamento e uso das máscaras. É muito difícil falar para não abraçar ou beijar. Eles [as crianças] dependem muito de você”, salientou. 

De acordo com Ana Paula Poli, voltar com o ensino presencial não seria eficaz e seguro em sala de aula, isso levando em consideração o atual momento da pandemia. “Só se houver uma diminuição nos casos, tomando ainda cuidados de distanciamentos”, opinou. 

 


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