O prefeito de Boa Esperança do Sul, José Manoel de Souza, está entre os prefeitos que afirmou ter recebido pedido de propina do pastor e assessor informal do MEC, Arilton Moura. A notícia repercutiu nesta quarta-feira (23), após uma entrevista ao "O Globo". Conforme os relatos dele e de um outro gestor, os pedidos variaram de R$ 15 a R$ 40 mil, além de até mesmo compra de Bíblias.
O prefeito de Boa Esperança do Sul, cidade vizinha de Araraquara, contou que participou de um encontro com o ministro. A reunião teria sido no dia 13 de janeiro, com 30 gestores municipais e, após a audiência, cada prefeito recebia uma senha e esperava para apresentar as demandas para assessores. Na reunião, Manoel pretendia pedir verbas para ampliar uma escola e terminar com a terceiração de ônibus escolar. Após isso, Manoel e outros prefeitos foram até um restaurante na companhia do pastor Arilton Moura.
Outro prefeito que relatou o pedido, Kelton Pinheiro, de Bonfinópolis (GO), contou que teve uma audiência com Milton Ribeiro e outros 15 gestores municipais no dia 11 de março. O ministro teria deixado o local com Arilton Moura e Gilmar Santos, que também é pastor e preside a Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil.
Gilmar Santos e Arilton Moura atuavam como assessores informais do MEC, intermediando encontros de Milton Ribeiro com prefeitos. Em áudios vazados, o ministro disse que o governo prioriza prefeituras assessoradas pelos dois líderes evangélicos e o pedido seria de Bolsonaro.
O que disse José Manoel de Souza?
Eu o abordei e perguntei: "Senhor Arilton, como serão as liberações? Vai ser para todos os municípios?" E ele falou: "Vamos ali fora...Eu vou ser bem sincero. Tem escolas profissionalizantes no seu município?" Eu disse que não, porque a cidade é pequena, e a gente precisa aumentar creches e ônibus escolar. E ele falou: "Se você quiser, eu passo um papel agora, ligo para uma pessoa e as escolas profissionalizantes vão chegar ao seu município, mas em contrapartida, você precisa depositar R$ 40 mil para ajudar a igreja. Uma mão lava a outra, né?" — relembra Souza, acrescentando: — Eu bati nas costas dele e falei: "Obrigado senhor Arilton, mas para mim não serve".
Kelton Pinheiro, o prefeito de Bonfinópolis (GO)
Segundo o prefeito de Bonfinópolis, os dois pastores teriam chamado os prefeitos para um almoço. Em um restaurante, Moura teria perguntado a Kelton se havia algum pedido de melhorias para a sua cidade e o mesmo respondeu que tinha a necessidade de mais uma escola. "Disse que eu teria que dar R$ 15 mil para ele naquele dia para ele poder fazer a indicação. [Ele disse]: ‘Transfere para minha conta, é hoje (…) No Brasil, as coisas funcionam assim'”, conta Kelton.
O prefeito de Bonfinópolis ainda relatou que Moura teria feito um outro pedido. "“Que eu desse uma oferta para a igreja, comprasse bíblias para ajudar na construção da igreja (…) Seria uma venda casada. Eu teria que comprar essas bíblias, porque ele estava em campanha para arrecadar dinheiro para a construção da igreja.”
O ministro da Educação
O ministro da Educação nega que houesse o esquema no pedido de verbas e diz que uma investigação sobre a atuação dos pastores foi pedida para a CGU em agosto de 2021. Em entrevista nesta quarta-feira (23), Ribeiro argumentou que não existe nenhuma possibilidade de determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer estado ou município.