Por Guilherme Jorge da Silva
O enorme acervo original da Netflix guarda algumas gratas surpresas. Uma delas é essa comédia romântica espanhola dirigida por Laura Maná e recentemente incluída no catalogo. Depois de oito anos de namoro, Marcos (Quim Gutiérrez) leva um pé na bunda de sua namorada Ana (Alba Ribas) e tem que se adaptar aos novos tempos para “entrar na pista” dos solteiros. Nessa fase de adaptação, conta com a ajuda do boa pinta Diego (Alfonso Bassave) e dos hilários vídeos “coach” do guru da internet Sebastián Vennet (Ernesto Alterio).
Se superar a ex já é um trabalho complicado, modelar-se aos tempos da geração Z é tarefa hercúlea. Em épocas de “match” e encontros onlines marcados com o único objetivo de beijar ou transar, a praticidade do alívio sexual torna o flerte desnecessário e muitas vezes pedante. No admirável mundo novo em que vivemos, basta ser visto e economizar no singularismo que caracteriza a individualidade – e, sobretudo, investir na superficialidade.
Afinal de contas, um homem de 35 anos tem que se vestir e se comportar como um homem de 35 anos. A faixa dos trinta deixa pouco espaço para a originalidade e exige a conformidade de manada, onde homens vestem roupas cacharel, blaiser e substituem o óculos pela deselegância discreta das lentes de contato. Para Marcos essa transformação acaba sendo sofrida e motivada única e exclusivamente para atrair os olhares femininos – adaptados para notar exatamente esse estereótipo.
A perda de personalidade é abordada de forma leve e bem humorada. O filme carrega diversos clichês e tem um final mais que previsível, não diminuindo a eficiência de roteiro, sobretudo ao nos reconhecermos na figura medíocre (no sentido literal da palavra, mediano) da personagem principal. Uma janela com brisa se abre quando ele reencontra uma colega do colégio (Natália Tena), figura de extrema personalidade que representa todos aqueles que se recusam a ajoelhar para o lugar comum em que vivemos.
Nessa ordem, podemos dizer que temos uma bem executada obra de costumes ao caracterizar hábitos singulares do tempo que pertencemos. A coragem para não ser engolido por uma imensa máquina de moer e padronizar carnes são para poucos. E na toada do padrão e do esperado, perdemos o extraordinário e nos conformamos com o que a atual geração denomina de “padrãozinho”.
Mas cuidado: ao mesmo tempo que a padronização mortifica, a desconstrução pode ser extremamente pedante. Felizmente não é o caso.
A proposta não é desafiadora e nem aborda questões com grande profundidade filosófica – e nem seria apropriado. O longa se veste igual sua personagem principal: simples e confortável. O segredo de qualquer comédia, ainda mais uma romântica, é exatamente Residir no limiar do bobo, do trivial, do água com açúcar, do mais do mesmo. E quando percebemos, estamos dentro da história nos divertindo, nos conhecendo e querendo mais.
Portanto, quaisquer questões que possam – e devam – ser interpretadas de forma reflexiva fica sob responsabilidade do espectador. Garanto que, ao final da narrativa, você sairá bem humorado e com o sorriso no rosto típico dos imbecis. Bom, ao menos foi o que aconteceu comigo.
Te Quiero, Imbécil está disponível na plataforma Netflix.