Por Rian Fernandes
“Eu me isolei num quarto, afastada. Aí você vê seu filho vir na janela falar com você, perguntando quantos dias faltam para poder abraçar”. Este é um trecho do relato de Michele Baptista, que testou positivo para a Covid-19, assim como praticamente toda a família. Bióloga de formação e professora, ela teve que ficar em casa, positivada, com o marido e duas crianças, que não estavam com coronavírus. Além dela, pai, mãe, irmã, avó e outros familiares também foram contaminados, tudo isso, em menos de uma semana.
Michele está isolada desde março, no entanto, acredita que recebeu o contágio quando teve que ir vacinar os pais, na terça (26), que estariam com a doença, mas sem conhecimento. “Eu não moro com eles. Tenho minha casa, com meu marido e duas crianças, mas eu tive contato com os meus pais porque eu fui levá-los para tomar vacina da gripe”, contou.
No fim do dia 28 de maio ela começou a sentir uma dor no corpo e no dia seguinte teve uma febre passageira. Porém, no final de semana, começou a ficar indisposta, assim como teve a perda do olfato e paladar. “Quando eu comecei a me dar conta que estava perdendo cheiro e gosto, eu decidi testar. (...) Porque na minha família meu pai, minha mãe, irmã, tia, marido da minha tia, prima, avó, todos testaram positivo”.
Ainda segundo a bióloga, no começo do mesmo dia, a mãe já havia avisado sobre o primeiro resultado positivo na família. “A minha mãe, na quinta-feira de manhã, já tinha me ligado falando do primeiro resultado positivo, que tinha sido marido da minha tia, que trabalha junto com o meu pai. Como ela e meu pai também já estavam com sintomas de resfriados, eles ficaram assustados e resolveram ir testar. Aí foi essa cadeia de resultados positivos”, narrou ela.
Sintomas e o período de isolamento
[caption id="attachment_8096" align="alignnone" width="720"]“Eu não tive sintomas graves. Chegou no final de semana eu perdi o cheiro e o gosto. E na segunda-feira o meu nariz congestionou muito. O vírus atacou o meu nariz. Antes dele começar a congestionar, durante esse final de semana que eu fui perdendo os sentidos, começou a queimar demais. Isso é muito estranho, não é normal. Então atacou bastante”, comentou Michele.
Mesmo com os sintomas, considerados por ela, não graves, a saúde psicológica no momento foi a fase mais complicada. “Nesse período, o difícil para mim foi o mental. Por mais que eu não estivesse sintomas graves, o noticiário é muito pesado com a quantidade de mortes que a gente tem assistido. É uma doença que a gente não conhece”.
“O isolamento foi extremamente difícil. Eu tenho dois filhos, um menino e uma menina, e não pude estar perto deles. Eu me isolei num quarto, afastada. Aí você vê seu filho vir na janela falar com você, perguntando quantos dias faltam para poder abraçar. No meu caso, o peso foi muito psicológico”, disse Michele, relembrando, emocionada, dos momentos em que não pode ter contato com os próprios filhos por conta da Covid-19.
De acordo com a professora, a melhora na saúde mental se deu com uma publicação nas redes sociais falando sobre a testagem positiva para a doença, em que amigos apareceram para dar um apoio enorme. “Essa é a minha gratidão eterna. A todos que tiveram acesso ao meu resultado e que de alguma forma me acarinharam. Fez toda a diferença.”
[caption id="attachment_8104" align="alignnone" width="480"]Mensagem para quem desacredita da capacidade do coronavírus
Agora bem após a confirmação da Covid-19, Michele mandou uma mensagem no relato para quem desacredita da doença. “Se você pode, fique em casa. Use máscara adequadamente, higienize sua máscara e suas mãos. (...) Vamos pensar, praticar um pouco a empatia”.
Quando teve o resultado positivo, Michele se surpreendeu pelo fato do marido e as crianças não estarem com a doença, visto que a testagem deles foi negativa. “Eu vi nesse momento que todo o esforço que nós estamos fazendo aqui dentro de casa, valeu, por ele e pelas crianças não estarem com o vírus. Porque aqui a gente realmente leva muito a sério essa situação. Saía de casa, se realmente for necessário”.
“Eu tô contando um relato, de uma família, quase que toda, testando positivo em menos de uma semana. Isso é coisa de três, quatro dias. Como esse contágio é rápido e quantos são os casos evoluindo para pior. Por favor, fique em casa e mantenha os hábitos de higiene. (...) Estou desde o dia 17 de março isolada em casa com meus filhos, trabalhando em home-office. Tive contato com o vírus para tomar vacina. Olha a situação ”, alertou a bióloga sobre os momentos vividos na família.
Já sobre as medidas atuais consideradas as mais eficientes no enfrentamento da Covid-19, Michele ressaltou que “enquanto não tiver vacina, um antiviral eficaz, não existe outro meio. O meio é o isolamento social, o uso de máscara e a higienização correta das mãos e máscara”.