Araraquara passou a adotar nesta quinta-feira (27), um novo modelo de coleta de lixo, onde os coletores não trabalharão mais em pé no estribo, que é a parte traseira dos caminhões. Com o novo sistema, o deslocamento desses trabalhadores durante o trabalho ocorrerá na cabine dos caminhões ou caminhando. Porém, este primeiro dia de trabalhos gerou muitas reclamações e indignação da população e dos próprios coletores.
Um destes profissionais registrou, nas Redes Sociais, o primeiro dia seguindo o novo sistema.
“Não tem condição de trabalhar assim, ficar o dia inteiro correndo atrás do caminhão. Oito horas correndo, Precisamos de apoio”, disse no registro.
Veja a publicação do coletor:
No Facebook do Portal Araraquara Agora, muitos moradores reclamaram:
Que absurdo, passar 8 horas correndo atrás do caminhão. Pelo que entendi, seria para melhorar o trabalho deles, não piorar e cansar mais ainda. Porque não fazem reunião p aumentar o salário deles, invés de prejudicá-los.
Cadê os caminhos que disseram em notas onde eles iam dentro da cabine junto ao motorista? O trabalho do coletor é essencial para todos, mas pouco valorizado, merecem respeito. São poucos que aceitam trabalhar nessas condições, com salário baixo e agora assim correndo atrás de caminhão, comentou.
Não sei como aguentam trabalhar correndo atrás de um caminhão! Quando o caminhão deixa eles e vão andando e juntando o lixo pro caminhão pegar. Agora correndo subindo e descendo do caminhão por 8 horas seguidas, dizia outra mensagem.
Outra mensagem chamou o sindicato: “Alô sindicato da categoria. Alô técnico de segurança do Trabalho da empresa, cadê vocês?”.
Foram inúmeras as reclamações no Portal.
Nem sequer perguntaram pra eles qual é a melhor forma deles trabalharem.
Essa nova lei que “inventaram” pra preservar a segurança dos catadores é uma vergonha, um tapa na cara da sociedade e desta classe de trabalhadores que se arriscam todos os dias para recolherem os lixos da cidade.
Indicação ao Executivo
Ainda na tarde desta quinta-feira (27) a vereadora Filipa Brunelli (PT) fez a Indicação 57/2022, solicitando a readequação da coleta de resíduos sólidos domiciliares no município. “É deplorável, desumana e de exploração dos trabalhadores”, disse a vereadora.
“O Ministério Público do Trabalho (MPT) exigiu que a Prefeitura removesse o ‘estribo’, onde os garis subiam na traseira do caminhão. No meu ponto de vista, foi uma decisão plausível, pois a situação dos garis era deplorável. Porém, a atual realidade piorou ainda mais a situação desses profissionais”, alerta a parlamentar.
Filipa entende que “o Poder Judiciário obrigou o Poder Executivo a tomar providências e mudanças a curto prazo, porém devemos pensar em melhorias para esses profissionais e não sobrecarregá-los. O que pudemos observar no primeiro dia, já no novo modelo, foi uma situação no mínimo deplorável, desumana e de exploração dos trabalhadores. Eles precisam correr atrás dos caminhões recolhendo o lixo por mais de 60 quilômetros diariamente”.
Para a vereadora, o modelo atual representa não somente um grande equívoco de condução, mas também de déficit de recursos humanos, defasagem no serviço prestado e qualidade de vida aos trabalhadores.
No documento, a parlamentar apresentou o modelo colocado em prática no município de Praia Grande-SP.
“A cidade adequou seus caminhões com uma galeria de ferro com assentos para os garis, quatro garis por caminhão e a cada três quarteirões são revezados os coletores que farão o percurso a pé para a coleta, garantindo uma redução do esforço físico deles.”
“Sabemos que o melhor modelo de coleta não é o realizado em países subdesenvolvidos e, sim, a automatização da coleta, sabemos ainda que é impossível a mudança do sistema do dia para noite, não somente pela situação orçamentária dos municípios, em específico nossa cidade, mas também pela própria cultura em exercício pela sociedade no que tange à coleta e ao tratamento de resíduos sólidos domiciliares”, afirma Filipa.
A vereadora finaliza destacando que “não podemos punir os trabalhadores por uma decisão judicial e uma má decisão no plano executado”.