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06/06/2023 às 13h28min - Atualizada em 06/06/2023 às 13h28min

Da roça ao próprio negócio: como o empreendedorismo transforma vidas

Gislaine Cristina Rodella da Silva deixou a colheita de laranja para iniciar o próprio negócio depois de participar de um curso gratuito oferecido pela Assistência Social de Boa Esperança do Sul. Especialista do Sebrae explica como o empreendedorismo é capaz de desenvolver a economia de cidades brasileiras

Por Rian Fernandes
Gislaine Aparecida Rodella da Silva se capacitou em um curso da Assistência Social de Boa Esperança do Sul e hoje tem o próprio negócio - Foto: Rian Fernandes

De uma vida profissional sofrida, com dias de sol e chuva para o início do próprio negócio na área de beleza. Assim foi transformada a vida de Gislaine Cristina Rodella da Silva, 36 anos, na pequena cidade de Boa Esperança do Sul. O ano de 2022 marcou a virada de sua rotina profissional, quando ela decidiu se inscrever em uma capacitação gratuita oferecida pela Assistência Social do município, enquanto revezava com o trabalho duro na colheita da laranja. Após seis meses de curso, ela investiu os seus rendimentos trabalhistas para embarcar de vez no empreendedorismo. 

 

Com sorriso no rosto e satisfação ao contar sua história, hoje ela possui um pequeno salão de beleza no bairro Palmeiras II. Atende a várias clientes ao dia e consegue fazer o seu próprio horário de trabalho que, para ela, é bem menos cansativo, dolorido e sofrido do que os tempos de roça. Época de que Gislaine bem se recorda, como se fosse ontem. 

 

“Eu levantava às 3h30 da madrugada, todos os dias, para fazer a marmita. Quando era 4h30 eu tinha que estar no ponto. Dependendo do lugar, era mais aproximadamente uma hora de relógio, para chegar ao trabalho. Mas se fosse uma viagem, em uma fazenda mais longe, eram entre 2h e 2h30”, relembra sobre a rotina diária que fazia para buscar o seu ganha pão, sustento para ela e de sua família. E todos esses horários era apenas o início de uma jornada de trabalho que terminava somente no fim da tarde e, de vez em quando, chegava em casa somente no começo da noite. 

 

Diante do suor na roça, Gislaine viu no curso de manicure e pedicure, da Assistência Social de Boa Esperança do Sul, uma oportunidade de aprender, buscar conhecimento e empreender. “Fazendo o curso eu resolvi investir os meus lucros que tive durante a última safra e abri o meu salão. Eu consegui fazer (o curso) e aqui está o meu investimento. Trabalho de terça a sábado, das 7h às 18h. Tenho bastante clientes, graças a Deus. Está indo bem. No começo é difícil, mas com força de vontade e perseverança, a gente consegue”,conta ela depois de ter enfrentado vários obstáculos para conquistar o próprio negócio. 

 

O próprio negócio após foi possível após a capacitação oferecida pela Assistência Social. Gislaine hoje é um exemplo de como os cursos gratuitos podem ser uma política pública para a mudança de tantas outras vidas e realidades.

 

Apenas R$ 567,5. Esta é a renda média da população, conforme aponta o Mapa da Riqueza, um estudo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) que chegou ao número por meio do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) do ano base de 2020. Em comparação com os outros municípios, Boa Esperança do Sul é a cidade mais pobre da região de Araraquara-SP. 



 

Empreendedorismo e sociedade

 

E a importância do empreendedorismo para o desenvolvimento da sociedade é destacada nos trabalhos desenvolvidos pelo Sebrae-SP, como explica a analista de negócios do Sebrae-SP, Patrícia Ferrari Peceguini. 

 

O Empreendedorismo representa para as pessoas uma oportunidade de que elas sejam protagonistas, e que gerem o seu próprio emprego e renda em primeiro momento. Quando bem estruturado, um empreendimento tende a crescer e gerar ainda mais emprego e mais renda, promovendo um círculo virtuoso e desenvolvimento econômico e social. A maior parte dos empregos do país está nos pequenos negócios, que de maneira pulverizada absorve mão de obra em grande volume”, esclarece a especialista, que é uma das gestoras do Sebrae-SP na região de Boa Esperança do Sul. 

 

Para Patrícia, realidades como a de Boa Esperança do Sul, em que a população pode ser considerada a mais pobre da região, pode ser transformada pela junção do empreendedorismo com o microcrédito orientado. “É uma possibilidade de que um potencial empresário ou empreendedor informal passe por uma capacitação técnica, entender e praticar o planejamento do negócio, e a partir daí, calcular os riscos e investir com segurança. Caso obtenha tal crédito, a taxa de juros é mais acessível e justa.  Na cidade de Boa Esperança do Sul, atualmente o empreendedor pode contar com a presença de uma unidade do Sebrae aqui em conjunto com o Banco do Povo Paulista”, detalha ela. 

 

No entanto, a própria especialista confirma que a falta de capital pode ser uma barreira inicial para o começo de um negócio. Porém, ao mesmo tempo, pode ser a motivação para uma vida empreendedora. “A própria dificuldade financeira e a ausência de emprego podem despertar o empreendedorismo. A pessoa identifica algo que saiba fazer bem e começa a fazer para vender. Sabemos que muitos dos pequenos negócios surgiram sem capital inicial, mas com controle e sabedoria para poupar os recursos que obtém. E assim, o empreendedor pode ir injetando recursos no próprio negócio e ter um crescimento gradual e contínuo a ponto de se destacar no mercado”. 

 

E o próprio negócio é o sonho para mais da metade dos adultos brasileiros. Pelo menos é o que aponta o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, um projeto de pesquisa sobre o empreendedorismo realizado em dezenas de países, incluindo o Brasil. O GEM Brasil 2022 entrevistou 2 mil pessoas da população adulta brasileira entre 18 a 64 anos e outros 52 especialistas para analisar a situação do empreendedorismo no país. 

 

Diversos dados e informações foram extraídas do projeto, como a conclusão de que o próprio negócio é um sonho, mas outro fato também chama a atenção: a necessidade de melhorias em programas e políticas governamentais para aperfeiçoar as condições para empreender no Brasil. Mais de 67% recomendam dos especialistas entrevistados recomendam tais melhorias. 

 

Além dos avanços em políticas governamentais (a maior necessidade), educação e capacitação, apoio financeiro e capacidade empreendedora também precisam de melhorias. 



Ajuda aos empreendedores

 

Diante das dificuldades do mundo empreendedor, o Sebrae-SP oferece várias ajudas para quem tem o próprio negócio. Os apoios acontecem tanto na capacitação profissional quanto na legalização do projeto, assim como na estruturação e planejamento. Em parceria com municípios, por exemplo, treinamentos técnicos são levados para as cidades com o intuito de ensinar a fazer e vender determinado produto. 

 

“No programa são realizados dois dias de gestão empresarial, agregando informações sobre Finanças e Marketing, para orientar na precificação do produto, controle de caixa e sobre a correta divulgação”, ressalta a analista de negócios do Sebrae-SP.



 

Como os municípios podem incentivar o empreendedorismo?

 

Assim como Boa Esperança do Sul proporcionou o curso de manicure e pedicure para Gislaine, os municípios podem incentivar a prática do empreendedorismo, como bem comenta Patrícia. “Os municípios podem investir em escolas técnicas para criação de mão de obra qualificada, pois isso atrai grandes empreendedores. Normalmente, ao redor de grandes empresas há uma geração de pequenos negócios que irão fornecer bens e serviços, e um dinamismo na economia é gerado neste momento”. 

 

A geração de distritos industriais, com infraestrutura para atração de investimentos e a criação de polos de economia criativa, com cultura, artesanato e feiras diversas, e a agricultura familiar também são opções listadas pela especialista de incentivo por parte das cidades brasileiras. 

 

Cursos oferecidos em Boa Esperança do Sul 

 

Assim como investiu no curso que mudou a profissão da agora empreendedora Gislaine, a Prefeitura de Boa Esperança do Sul seguirá oferecendo capacitações gratuitas para a população durante o ano de 2023. 

 

O município abriu em maio o período de pré-inscrições para mais oito cursos da Assistência Social: artesanato em crochê, básico de barbeiro, básico de cabeleireiro, básico de manicure e pedicure, costura criativa, luvas em couro, saboaria e produção de produtos para cuidados com a casa e

soldador. 

 

Pessoas com pelo menos 16 anos (exceto de soldador, que precisa ter 18 anos) podem demonstrar o interresse na participação diretamente no prédio da Assistência Social da cidade, que fica na R. Expedicionário Mário Fernandes, 422. 

 

 

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