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03/05/2024 às 13h55min - Atualizada em 03/05/2024 às 13h55min

'Estava vendo a lua e pensando em você' diz mãe de vítimas do líder religioso em Araraquara

A mãe das menores de 14 e 17 anos contou como o crime acontecia com suas filhas; homem estava escondido na casa do irmão onde foi preso pela Força Tática na última terça-feira (30), no Jardim Maria Luiza IV

Flavio Fernandes
A DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) investiga caso de abusos sexuais praticados por um líder religioso em um terreiro de umbanda no Jardim Maria Luiza lll, em Araraquara. O acusado, de 45 anos, estava escondido na casa do irmão, onde foi preso pela Força Tática na última terça-feira (30), no Jardim Maria Luiza IV.

Os crimes que estão sendo investigados são de violação sexual mediante fraude, estupro de vúlneravel, importunação sexual, além de relatos de disparos de arma de fogo, ameaça e lesão corporal praticados no mesmo terreiro. 

Segundo os investigadores as investigações começaram com o relato de duas vítimas que registraram boletim de ocorrência, denunciando o líder religioso e depois destes registros outros dois apareceram. 

“o modus operandi do autor é o mesmo nos quatro casos” disse a delegada Meirelene de Castro Rodrigues em entrevista coletiva concedida na manhã desta quinta-feira (2).

RELATOS DA MÃE DAS IRMÃS QUE FORAM VÍTIMAS DO LÍDER RELIGIOSO

A mãe de duas adolescentes de 13 e 17 anos que não quis se identificar falou com a nossa reportagem do Portal Araraquara Agora.
 

“Ele mandava mensagem para uma das minhas filhas que estava vendo a lua e pensando nela, ele vai se envolvendo então no começo elas tinham relação com ele por conta dele envolver a religão com essa troca de energia entre as entidades”, disse. 


A mulher ainda contou que ele se aproveitava da religião para se envolver com as filhas.
 

“Ele dizia que estava apaixonado, que eles se amavam, que duas almas estavam se encontrando com as entidades e que eles precisavam dessa troca de energia, para que ele conseguisse fortalecimento e ajudar outras pessoas depois. Após tudo isso ele mudou e começou a ficar agressivo e quando realmente minhas meninas disse que não queriam mais que acontecia os estupros. Ele machucava, a mordia e a forçava.”


A família dela conhece o suspeito há mais de 20 anos e contou como essa aproximação entre eles começou.
 

“Nós frequentavamos uma outra casa de umbanda muito respeitada, onde o conhecemos e a minha filha mais velha que ele abusou, ele chegou a ir em aniversário dela. Ele conversava sobre tudo, até falava sobre política, onde ele ia se aproximando e minhas meninas gostavam muito dele e da mãe de santo. Chegou um momento que ele dizia sabe como que é adolescência nem tudo conta pros pais né”.


A mãe ainda relatou que começou a notar mudanças no comportamento das filhas.
 

“Ele começou a dizer tal filha sua começou a dizer que estava passando coisas na escola e as meninas se abriam muito pra ele e aí foi onde nós começamos a ver mudanças e pensavamos que elas estavam no caminho certo”.


Segundo a mulher 10 novas vítimas a procuraram mas que por medo não querem denunciar.
 

“A gente tem um grupo e estamos nos fortalecendo porque realmente queremos justiça, várias mulheres que também foram vítimas começaram a me mandar mensagens, mas por medo não querem falar, denúnciar, por terem sofrido ameaças. Nós temos provas que mostram que essas ameças eram feitas com armas e que se alguma delas falasse a vida delas iria andar pra trás, porque ele tinha reza, crença e que matava uma pessoa em poucos dias. Com isso foi deixando as pessoas com medo”. 


ADVOGADA DAS VÍTIMAS

A advogada Priscila Gomes disse que com quase 12 anos de atuação nunca se deparou com uma situação como essa.
 

“Nunca me deparei com um caso tão grave e tão delicada, mas o que é notório que eu percebi nas minhas clientes e as que não são, a conquista da confiança familiar principalmente das meninas menores de idade e a confiança dos pais”. 


A doutora ainda explicou que o autor é uma pessoa que conversava muito bem e por isso não levantava suspeitas ou desconfiança.
 

“Ele sempre falava sobre diversos assuntos era alegre e aos poucos foi se tornando um amigo pessoal mesmo, e aí foi onde ele começou a entrar na casa e os pais deixarem as filhas ter um contato mais próximo. Ele sempre usava da fé e da entidade pra atrair a todos. Além de dizer que precisava ter uma troca de energia e que a pessoa (vítimas) tinham poderes pra conseguir o que queria.”


O LOCAL ONDE SUPOSTAMENTE ACONTECIA OS CRIMES

 Ainda de acordo com a delegada o acusado utilizava a fé das pessoas como desculpa para conseguir praticar os abusos que teriam acontecido em um quarto construido pelo próprio suspeito para esta finalidade. 
 

“Foram diversas vítimas que sofreram os abusos praticados pelo autor e ele alegava para elas que estava incorporado por uma entidade”.




OPERAÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO
 

A DDM cumpriu um mandado de busca e apreensão na residência do suspeito e também onde funcionava o terreiro de umbanda na tarde da última terça-feira (30). No local foram localizadas diversas armas brancas como espadas, facão, punhais, machados e uma arma de fogo que eram utilizados nos rituais religiosos (leia a matéria relacionada).


Até então o homem não tinha sido localizado pelos policiais nos endereços da operação.



PRISÃO

As autoridades já estavam a procura do acusado e ainda na noite de terça-feira (30), horas depois da operação da DDM por volta das 22h a Força Tática da Polícia Militar, recebeu informações de que ele estaria escondido na casa do irmão na Avenida Silvio Cruz no Maria Luiza IV.

Os policiais militares foram até o endereço da denúncia e fizeram contato com o líder religioso que não esboçou nenhuma reação. Durante busca pessoal nada de ilícito foi localizado, porém como já havia um mandado de prisão temporáriad de 30 dias em seu desfavor ele acabou sendo conduzido ao Plantão Policial.

O delegado de plantão deu cumprimento ao mandado e registrou boletim de ocorrência por captura de procurado, depois o suspeito foi preso e encaminhado para Cadeia Pública de Santa Ernestina. 

NOVAS VÍTIMAS AINDA PODEM APARECER

A delegada acredita que o número de vítimas pode aumentar com a divulgação do caso.
 

“Nós acreditamos que várias vítimas passaram por essa situação, mas por receio, vergonha ou medo ainda não nos procuraram para registrar o fato em boletim de ocorrência”, disse.



Meirelene também disse que em nenhuma hipótese que nenhum dado pessoal ou relato das vítimas será divulgado.
 

“Nós preservamos pela necessidade do sigilo da Justiça durante as investigações que ainda estão em curso, precisamos ter provas para poder responsabilizar essa pessoa, para que ela continue presa e evitar que ele faça outras vítimas e para ser punido pelos crimes que cometeu”, completou. 



Segundo a delegada as provas e os relatos que já tem são contundentes e inquestionáveis, mas ainda novas pessoas incluindo testemunhas e familiares das vítimas ainda serão ouvidas. O depoimento dessas pessoas deve acontecer antes do suspeito que ainda não interrogado e não tem data para acontecer.

O acusado segue preso temporariamente com prazo de 30 dias e pode ser prorrogado por igual período ou a Justiça pode converter em prisão preventiva. 

Meierelene ainda fez questão de ressaltar que o crime praticado por pessoa física não envolve religião nenhuma.
 

“A gente não pode confundir a religião com o criminoso e temos o total respeito pela religião umbandista, que foi usada como desculpa para que os atos criminosos fossem praticados. As vítimas estavam vulneráveis que compareciam e frequentavam o centro de umbanda acreditando estar sendo atendida por uma entidade”, finalizou


NOTA DE REPÚDIO 

A afecumsol (Associação Federativa Espiritualista Candomblé e Umbanda Morada do Sol), repudiram e condenaram os atos praticados pelo lider religioso contra as quatro vítimas. 

“Não compactuamos com a prática de feminicídio, abuso sexual e qualquer outro crime que possa existir dentro ou fora das práticas religiosas.”

DEFESA DO ACUSADO

A defesa foi procurada, mas até o fechamento desta reportagem a advogada dele não retornou o nosso contato e o espaço segue aberto.
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