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15/05/2020 às 18h04min - Atualizada em 14/05/2020 às 21h45min

Blue Jasmine – As neuras e o elitismo de Woody Allen

Por Guilherme Jorge da Silva

Duas das principais características do cinema do Allen: ele se concentra nas neuroses humanas; o ambiente é elitista.

Essas duas características permitem a confecção de roteiros hábeis, dinâmicos e recheados de cinismo. Em blue Jasmine não poderia ser diferente. Uma socialite (Cate Blanchatt) de Nova York, extremamente perturbada e em negação com o término do seu casamento, viaja para São Francisco com uma mão na frente e outra atrás - mas sem perder o esnobismo e o nariz empinado – para morar com a irmã pobretona (Sally Hawkins).

A adaptação se mostra difícil, e os nervos à flor da pele. Uma mulher que tinha tudo do bom e do melhor, fazendo viagens frequentes ao jet-set internacional, lidar com uma vida mais simples, com uma irmã humilde que tem dedo podre para maridos e sobrinhos insuportáveis.

Quando Allen sai do elitismo dos ricos e intelectuais, chega mais perto do espectador. É a chance de ouro para se criar condições de um humor bem colocado – como um curso de design de interiores feito por uma mulher que nunca se empenhou em nada na vida e tem um gosto um tanto quanto duvidoso, que pode ser comprovado pelos pavorosos papéis de parede do seu antigo apartamento na Park Avenue.

O lado cômico por parte da irmã fica na vida disfuncional, que não se enquadra na almejada vida da alta roda, com um bom partido e com decisões práticas e racionais. Mas a felicidade não é tratada de forma frívola ou superficial, pois cada uma leva a vida como pode e quer levar.

Nesse sentido, existe uma explicação e distanciamento genético: a irmã predestinada para se dar bem e ter uma vida de luxos, e uma irmã simplória. A primeira, ao perseguir um padrão de vida irreal, alimenta surtos e neuroses que culminam na grande revelação do filme, em uma rede de mentiras grande farsa criada.

Cate encarna perfeitamente a neurose de Allen, perdendo-se na persona criada pela irmã rica e não encontrando o seu verdadeiro eu, mesmo que para o espectador ele esteja lá. Aliás, é no embate dessas personas que sintetizamos o desejo coletivo entre o se dar bem e ser feliz; entre o ter e o ser; entre a verdade e a mentira; essas dicotomias muitas vezes se confundem. Sally Hawkins é competente o suficiente e dá graça ao papel da irmã mãe solteira, enquanto que Alec Baldwin alimenta a figura do marido rico e mulherengo.

Divertido e reflexivo, Allen sabe gravar um bom filme. Isso não se discute. Mas, apesar do ótimo trabalho, não chega perto do espetacular meia-noite em Paris (2011) - um dos maiores filmes da década e o melhor Woody Allen em trinta anos.

Blue Jasmine está disponível na Amazon Prime.


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