Corpo clínico da Santa Casa descreve caos e cobra providências da diretoria

O Corpo Clínico da Santa Casa de Araraquara enviou um ofício para a diretoria da unidade cobrando providências sobre um 'caos' na unidade. Os profissionais detalharam situações vivenciadas nos últimos meses que, segundo eles, comprometem a assistência à saúde da população. 

O documento foi elaborado por 24 profissionais da unidade, sendo médicos e coordenadores médicos de diversas especialidades. No ofício, o corpo clínico da Santa Casa fez questão de deixar claro que a "gravidade da situação do hospital trará graves e inevitáveis conseqüências à população". 

Falta de remédios, materiais, proibição de agendamento cirúrgico e outros

Os profissionais que compõem o corpo clínico iniciaram o documento descrevendo sobre situações vivenciadas nos últimos meses na unidade. Na ocasião, eles relataram "falta de antibióticos, quimioterápicos para pacientes com câncer, anestésicos, falta de materiais cirúrgicos e medicamentos dos mais simples aos mais complexos para tratamentos clínicos e cirúrgicos, materiais cirúrgicos indisponíveis (OPME), condições insalubres (como equipamentos quebrados ou parcialmente operantes, aparelhos de ar condicionado inoperantes deixando os quartos de UTI acima da temperatura preconizada para o correto cuidado aos pacientes e o ambiente de trabalho inadequado aos profissionais da saúde), indisponibilidade de broncoscopia e de endoscopia para tratamento de pacientes internados com emergências médicas (aparelhos quebrados), até a falta de alimentos aos pacientes internados no hospital, além de materiais básicos como cateteres, sondas, gaze, etc". 

Além das situações descritas, o corpo clínico enfatizou que, recentemente, houve a proibição de agendamento cirúrgico para pacientes oncológicos que necessitam de procedimentos cirúrgicos para seguir lutando pela vida. "Este cenário calamitoso traz risco imediato aos pacientes internados no hospital e a todos aqueles que dependem dos serviços terciários pelos quais a Santa Casa de Araraquara é referência para mais de um milhão de munícipes de Araraquara e cidades do entorno. Vivemos hoje um cenário de desassistência à saúde no mais importante hospital da região", destacam os profissionais no documento.

Problemas com salário

Além dos problemas com os serviços de saúde, os profissionais expuseram que o pagamento dos honorários médicos não será cumprido na integralidade pela Santa Casa de Misericórdia de Araraquara conforme data e contratos vigentes.  "Sabemos que eventos semelhantes ocorrerram mais de uma vez em tempos recentes, a saber: em Agosto 2021 e em Fevereiro 2022 e, na época, foram apresentados planos que levariam ao adequado controle financeiro da Instituição e permitiriam o pagamento dos honorários médicos conforme contrato e, no entanto, o pagamento dos honorários novamente não foi cumprido em data acordada e sem aviso prévio". 

O corpo clínico da Santa Casa também descreveu que, com a intervenção da prefeitura no hospital no ano passado, a promessa era de melhor regimento financeiro e de que não ocorreria desassistência à população e nem atrasos ou reduções nos pagamentos dos colaboradores profissionais da saúde.

Além de falarem sobre os momentos delicados vividos na unidade, os profissionais também fizeram um pedido claro: recursos para que o atendimento médico seja mantido. "O Corpo Clínico da Santa Casa de Araraquara clama por recursos para o hospital para que o atendimento ético e digno que os pacientes demandam seja mantido e repudia veemente a proposta da Mesa Diretora de corte de salário para 60% do valor vigente em contrato na data prevista seguida de compensação dos 40% restantes “quando for possível”, ou seja, sem sequer previsão concreta". 

Sobre a redução unilarel dos pagamentos, os profissionais salientaram que tal medida fere em diversos artigos o código de ética médica, coloca em risco imediato a população que depende do Hospital, e não será aceita pelo atual Corpo Clínico dos médicos responsáveis pelas equipes abaixo assinados. "Muitas equipes não terão condições de manter o atendimento e manter o contrato atual no caso de violação do mesmo pela Santa Casa de Araraquara, e deverão suspender por completo o contrato e o atendimento ao Hospital. Outras equipes não conseguirão manter as escalas atuais e serão obrigadas a reduzir suas escalas de médicos de plantão, comprometendo de forma muito significativa a assistência médica aos pacientes de toda a região". 

Pedido de providências

No documento, os profissionais pediram duas providências por parte da administração da Santa Casa de Araraquara para manter o hospital em funcionamento: 

• Suprimento de materiais, medicamentos e outros insumos adequados e necessários para a garantia de atendimento digno aos nossos pacientes, suficientes para o exercício seguro da Medicina em suas diversas especialidades e manter o funcionamento do hospital;
• Que os contratos médicos sejam mantidos e respeitados em sua integralidade, sem atrasos ou reduções nos pagamentos das equipes médicas, dentro dos prazos previstos em contratos. 

"Esse não é um grito de socorro isolado, fazemos coro com a comunidade de Araraquara e da região que necessitam os préstimos dos serviços, com os demais profissionais de saúde que trabalham na Santa Casa, e seus carentes pacientes que lá chegam esperançosos de uma luz de vida e dignidade. Não se faz medicina sem médicos, sem experiência, sem tecnologia, sem ciência e sem amor ao próximo. É o nosso clamor", conclui o corpo clínico. 

O que diz a Santa Casa? 

A equipe de jornalismo do portal Araraquara Agora solicitou um posicionamento da diretoria da unidade e, em caso de retorno, as informações serão atualizadas.