14/07/2020 às 20h32min - Atualizada em 15/07/2020 às 07h22min

Atrás do Cristo: clientes somem e o coronavírus ronda garotas de programa

Por Willian Oliveira

De dia, de noite, pela madrugada. Quem circula pela Rua dos Eletricitários, no Jardim Regina, nas costas do Cristo Redentor, em Araraquara, com certeza já se deparou com várias garotas de programa que ficam por ali. São mulheres de Araraquara, mas também de várias partes do estado e até do país. Algumas por opção, outras por não encontrar alternativa de sustento buscam nos programas sexuais uma fonte de renda. Várias delas se arriscam na rua, outras encontram um pouco mais de proteção e segurança trabalhando em boates.

A verdade é que até elas sentiram os impactos da crise provocada pelo novo coronavírus. O portal Araraquara Agora foi ouvir relatos dessas profissionais do sexo que vivem envoltas de preconceito e tabu. Poucas quiseram falar, mas cinco delas toparam, desde que não fossem identificadas. Usaremos nomes fictícios, mas as idades reais de cada uma.

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Nas entrevistas todas foram unânimes em relatar queda no número de clientes. Segundo elas o movimento nos meses mais delicados da pandemia, entre abril e maio, caiu quase 80% nas ruas. Hoje o movimento ainda está cerca de 60% menor. “Os homens sumiram. Na verdade todo mundo sumiu e nossa situação ficou bem complicada”, conta Fabiana, de 27 anos, que chegou de Franca para trabalhar na primeira semana de isolamento, em março. Ela veio junto com a Bianca, de 25 anos. As amigas conseguiram uma boate para trabalhar, mas até agora, quase não conseguiram.

“Passamos um perrengue logo no começo. A boate fechou como todo o comércio, nossa sorte foi que o dono foi firmeza com a gente, bancou a gente por vários dias e depois, quando conseguimos trabalhar um pouco . A gente retribuiu com parte do nosso cachê e tem sido assim, um ajuda o outro porque o momento é bem difícil pra todo mundo, não só pra gente”, conta Bianca.

Bianca e Fabiana trabalham em boate o que lhes garante um pouco mais de segurança, mas tem também quem fica nas esquinas, a procura de clientes. No final da tarde desta terça-feira (14) encontramos Natália, de 36 anos. Por ser considerada mais velha, explicou que não consegue mais espaço nas boates e o jeito é se virar na rua mesmo. Fica o dia todo em uma das esquinas a espera de clientes. Nos momentos mais duros da quarentena chegou a passar cinco dias sem conseguir nada. “Entrei em desespero porque pago aluguel, tenho um filho que nem sonha o que eu faço aqui e minha mãe que não mora comigo, mas depende da minha ajuda. Não estou aqui por diversão, ou porque sou sem vergonha, eu preciso trabalhar, levei muitas pedradas na vida e isso aqui tem ajudado a me reerguer até que eu possa deixar essa vida”, relata.

Cuidados

O coronavírus não é uma doença sexualmente transmissível, mas o ato sexual por si só exige proximidade e é aí que mora o perigo. Luana, de 27 anos, diz que a adaptação foi imediata, mas o medo faz parte da rotina. “Quem sai todo dia com estranhos já tem muita coisa pra se preocupar. Faz tempo que todas as meninas só saem de máscara, nada de beijo, mas o resto, é serviço completo, meu filho. A máscara até ajuda a gente que é mais feia a enganar”, brinca ela.

Ana Cláudia, de 23 anos, diz que tem enfrentado resistência de alguns clientes. “Tem gente que não entende, pede para gente tirar a máscara, para beijar, eu já cedi algumas vezes, é um risco, mas tento me manter segura. São os mesmos que várias vezes insistem para que a gente não use camisinha, mas com jeitinho a gente faz eles entenderem”, conta.

As garotas que a reportagem encontrou na tarde desta terça-feira não usavam máscaras de proteção, mas duas delas tinham na bolsa álcool em gel, luva cirúrgica e camisinha. “É o novo kit prazer”, brincou Luana.


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