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17/08/2023 às 13h11min - Atualizada em 17/08/2023 às 13h11min

‘Encontro' de Moro e hacker de Araraquara é marcado por troca de farpas e acusações

Em 2019 Walter Delgatti invadiu o celular do ex- juiz e provocou a anulação dos processos contra Lula

Willian Oliveira
Geraldo Magela/Agência Senado
Walter Delgatti, conhecido como hacker de Araraquara, esteve frente a frente no começo da tarde desta quinta-feira (17) com o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos atos golpistas de 8 de janeiro. O encontro foi marcado por troca de farpas, acusações e necessidade de intervenção da presidência dos trabalhos.

É importante aqui contextualizar; foi Delgatti, em 2019, o grande responsável pelo que ficou conhecido como Vaza Jato: a divulgação de conversas privadas do então juiz federal Sérgio Moro com procuradores da Operação Lava Jato. Essas conversas, consideradas ilegais, aliadas a outras provas, tornaram nulas várias sentenças proferidas pelo TRF 4 de Curitiba.

Algumas dessas decisões, inclusive, possibilitaram que Lula fosse solto e, posteriormente, eleito presidente da república.

Troca de farpas

O hacker de Araraquara chegou a chamar Sérgio Moro de “criminoso contumaz”.

“Eu fui vítima de uma perseguição em Araraquara, inclusive comparável à perseguição que o senhor fez com o presidente Lula e o PT. Ressaltando que eu li as conversas de vossa excelência, li a parte privada, e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz. Cometeu diversas irregularidades e crimes”, disse Delgatti.

Moro elevou o tom de voz e retrucou: “O bandido aqui, que foi preso, é o senhor. O senhor é inocente como o presidente Lula, então?”. “Nós temos um depoente que é acusado e processado por diversos crimes de estelionato. Há um caso de condenação de que envolveria 44 vítimas, sinais claros de que ele está envolvido em práticas criminosas e faz do crime a sua profissão”, prosseguiu o senador.

A estratégia de Sérgio Moro foi lembrar os processos de estelionato que pesam contra Walter Delgatti. O hacker de Araraquara tentou enfatizar que foi inocentado das acusações, mas Moro insistiu que não.

Em vários momentos, o vice-presidente da CPMI, Cid Gomes (PDT-CE), que atuava na ocasião como presidente dos trabalhos, pediu respeito de ambas as partes.

“Eu vejo colegas tomando a palavra dele como se fosse uma verdade absoluta, quando estamos diante de um estelionatário condenado. Esse herói já fez como vítima diversas pessoas inocente, não só hackeando, mas roubando valores”, concluiu o senador.

Delgatti não aceitou a provocação e disse que Moro espalha fake news.

Delgatti foi preso por invadir portais do sistema judiciário e inserir no sistema um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. Delgatti afirma que a ação foi financiada pela deputada Federal Carla Zambelli. Ela teria pago R$ 40 mil pelo serviço.

Delgatti também afirmou em depoimento que num encontro com Bolsonaro na residência oficial da presidência da república, o então presidente pediu a ele que tentasse fraudar as urnas eletrônicas. Delgatti afirmou que tinha conhecimento que o ato era criminoso.

"eu sabia (que era crime), lembrando que era ordem de um presidente da República. [...] Então, eu estava... tanto que eu entrei em contato com a 'Veja' e relatei isso por medo".

Bolsonaro teria prometido indulto

Para livrar Delgatti de uma possível condenação e prisão, o ex-presidente teria oferecido um indulto ao hacker.

"A ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia", afirmou.

Grampo contra Alexandre de Moraes
Walter Delgatti disse que Bolsonaro teria sugerido a ele assumir a autoria de um suposto grampo contra o do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do STF, Alexandre de Moraes.

"Segundo ele [Bolsonaro], eles haviam conseguido um grampo, que era tão esperado à época, do ministro Alexandre de Moraes. Que teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo", afirmou.
Segundo o hacker de Araraquara, sua imagem daria ‘credibilidade’ aos questionamentos já que no passado ele agiu em favor da esquerda ao tornar público fatos que possibilitaram a anulação de condenações contra o presidente Lula.

Delgatti queria emprego

Segundo depoimento de Walter Delgatti, a promessa de Carla Zambelli era que ele seria contratado para atuar na campanha de Jair Bolsonaro à presidência, o que não aconteceu.

"Ela [deputada Carla Zambelli] disse que havia uma oportunidade de emprego para mim, no caso, seria na campanha do Jair Bolsonaro, do ex-presidente", declarou.
Segundo o hacker, ele passou a atuar nas redes sociais da deputada, que é aliada do ex-presidente.
Auxílio ao Ministério da Defesa
Walter Delgatti afirmou ainda durante depoimento que ajudou e orientou membros do Ministério da Defesa a elaborar o relatório sobre as urnas eletrônicas, que teria sido criado para questionar o sistema eleitoral a pedir de Bolsonaro . O documento, posteriormente, foi entregue ao TSE, em novembro de 2022.
 
 
O relatório não apontou qualquer fraude na votação, mas pediu que o TSE fizesse "ajustes" no sistema eleitoral já rejeitados tecnicamente por entidades fiscalizadoras e disse que não era possível atestar a "isenção" das urnas.
 
A posição do Ministério da Defesa, sugerindo dúvidas sobre a isenção das urnas, divergiu de todas as demais entidades fiscalizadoras nacionais e internacionais.
 
"Tudo isso que eu repassei a eles consta no relatório que foi entregue ao TSE. Eu posso dizer hoje que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse, não tem nada menos e nada mais", afirmou o hacker.

Relação com a deputada
Walter Delgatti Neto disse ter conhecido a deputada Carla Zambelli em julho de 2022 em um hotel de Ribeirão Preto (SP). Na ocasião, o hacker estava desempregado e proibido de acessar a internet por ser investigado pela Operação Spoofing, da Polícia Federal. Delgatti havia acessado e divulgado conversas de autoridades do Poder Judiciário ligadas à Operação Lava Jato.
Segundo o depoente, após o encontro em Ribeirão Preto, a deputada Carla Zambelli entrou em contato pelo WhatsApp e ofereceu uma “oportunidade de emprego” na campanha à reeleição de Jair Bolsonaro. A ideia inicial era de que o hacker gerenciasse as redes sociais da parlamentar. No entanto, uma decisão de Alexandre de Morais suspendeu o acesso dela às redes sociais.
Walter Delgatti Neto disse que, antes da suspensão das contas de Carla Zambelli, recebeu uma remuneração de R$ 3 mil. No entanto, após as conversas mantidas com o presidente do PL, o marqueteiro Duda Lima e o próprio Jair Bolsonaro, Carla Zambelli teria repassado ao hacker um total de R$ 40 mil.
O depoente confirmou que foi ideia da deputada federal a invasão das redes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele admitiu ter inserido no sistema do CNJ um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Morais.
 
Com informações da Agência Senado
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